Praga nacional

 

A imagem Esta Fotografia de Autor Desconhecido está licenciada ao abrigo da CC BY-ND

Sou uma orgulhosa portuguesa, adoro Portugal. Não sei se conseguiria voltar a viver em Portugal, pelo desrespeito que as pessoas têm relativamente a horários, mas sou mais nacionalista há 15 anos, depois de ter atravessado fronteiras. A vida não tem sido sempre fácil, às vezes bem pelo contrário, mas já escrevi sobre o assunto (Suor e Lágrimas).

Por norma, gosto de falar sobre o que conheço e o que domino, para servir de mensagem para quem não esteve a ler e a aprender tanto tempo como eu sobre o tópico educação, mas hoje quero falar-vos de um assunto que me agonia todos os verões e do qual não tenho orgulho nenhum. Falo dos incêndios que assombram Portugal desde que me lembro de existir e que parece que foi dado como algo normal. Não vou discutir o facto de serem as políticas ou de ser o Montenegro que está de férias no Algarve, porque antes dele estiveram lá milhentos que faziam sempre a mesma coisa. E a política em Portugal vira o disco, mas a música, infelizmente, neste tópico é sempre a mesma.

Aqui há uns tempos tornou-se obrigatória a limpeza das matas, para evitar que, nas alturas em que o calor aperta, os incêndios tivessem possibilidade de proliferar, mas o filme de terror é sempre o mesmo. Já não vejo notícias na televisão há algum tempo, simplesmente porque há matérias em que prefiro viver na ignorância e quando é realmente importante sou sempre informada de tudo, infelizmente até por mensagens do whatsapp a explicar o quanto desta vez afetou pessoas que conheço e que não conheço. Um drama para famílias inteiras.

Claro que o objetivo nessa altura é salvar pessoas e bens, mas no rescaldo podíamos averiguar os factos, éramos e tenho esperança que continuemos a ser, mesmo pós IA (inteligência artificial), tão competentes a analisar situações e a planificar para melhorar ações, para conseguirmos que no ano seguinte fosse tudo mais calmo e protegido para pessoas e casas. Claro que esses planos de ação não poderão ter em conta todas as cabecinhas ambiciosas e gananciosas que por aí andam, mas podem condicionar as mesmas.

Como defensora que sou da educação, deveriam começar nas escolas, não a dizer que “não se deve atear fogos” mas a levar bombeiros às escolas, a levar alunos aos quartéis, a terrenos queimados, a pessoas hospitalizadas, a fazer perceber que o nosso umbigo é apenas o nosso umbigo e que o respeito pelos outros e pela sociedade é fundamental para se viver em comunidade. A fazer brincadeiras, jogos didáticos, sobre a importância de se ganhar dinheiro, mas a maior importância ainda de se ser íntegro. Os miúdos nas escolas transportam muito para casa e se estivermos a achar que o problema é dos mais velhos e se não interferirmos com os pequenos, isto vai ser um flagelo para os nossos bisnetos.

Um passo importante também é de não banalizar, a assobiar para o lado, a achar que os coitadinhos dos pirómanos e incendiários são maluquinhos e que temos de os respeitar porque têm uma doença, coitadinhos. Ora bem, os valores da sociedade dizem-nos que, quando pisamos a linha do respeito, pelo outro lado estamos a infringir e temos de ser penalizados e isso tem de ser levado até ao fim. O que acontece atualmente é que são levados para a esquadra, mas depois vão para casa sem qualquer penalização, depois de colocarem em risco a vida de pessoas, de bens, do país?

Andamos à espera de dinheiros europeus que venham limpar as matas? Que venham resolver, nem consigo eu perceber muito bem o quê, em troca de dignidade, respeito pela comunidade? Em troca de empatia e amizade, que são supostamente características que estavam tão enraizadas no povo português? Não falo de cooperação, porque estamos muito, mas muito longe. Tenhamos a capacidade que têm os nossos vizinhos espanhóis de ser cooperantes e de nos inter-ajudarmos sem receio que o nosso vizinho tenha mais do que nós, porque, como costumo dizer aos meus filhos, quando queremos ser melhores temos de nos esforçar e mostrar que efetivamente somos melhores. Destruir o que os outros têm para mostrarmos que somos bons demonstra apenas a pequenez que temos, que o tempo mostrará que não nos leva longe. É como o dinheiro, gasta-se e a perda deixará as pessoas muito mais pobres em tudo. Vamos todos resolver este flagelo e elevar o nome de Portugal pelo que somos, um país maravilhoso à beira mar plantado.

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