Exigir, questionar e responsabilizar

A vida não pára, sempre cheia de eventos e emoções que nos dificultam ter tempo para coisas que, não sendo prioritárias, pensamos que sejam úteis para a sociedade. É o que sinto em relação ao meu blog. Sei que pode ter coisas úteis e gostava de poder ter tempo para escrever mais, mas simplesmente não dá. Costumo dizer que, com três filhos (um trabalho a full time e um doutoramento) cheguei ao meu limite de capacidade. Há momentos em que há prioridades que se vão empurrando com a barriga, com tanta coisa em mãos não dá mesmo para mais.

Felizmente é assim, porque vivo tudo ao extremo, trabalho e lazer, o que me reduz a energia, mas felizmente não me tira a emoção. E quando olho à minha volta, o que me continua a assustar mais é a falta de responsabilidade atroz que se passa em todas as idades. Teria mil e uma coisas para vos contar em relação a isso, mas vou partilhar convosco uma situação que se passou comigo há uns tempos. Um aluno que foi para estágio, onde deveria observar e ajudar, ter aquelas competências básicas de “esta pessoa não sabe, mas quer aprender e será um excelente profissional”. Como supervisora de estagiários, atualmente é a única coisa que procuro. Não espero alunos que já saibam, espero alunos que estejam despertos para ser motivados e para aprender. Na realidade, o mesmo que exijo aos meus filhos. Tenho imensa paciência para os ensinar e para os motivar, com atividades diversificadas, agora quando vejo que não querem ouvir e que o desinteresse é mais forte do que a vontade, desisto por alguns segundos e, quando me parece que será melhor recebido, redobro a minha paciência. Por norma, esta abordagem é muito bem recebida, aliás, tão bem absorvida que, sempre que estão a ajudar, acontece frequentemente um deles dizer, muito orgulhoso: “Mamã, trabalho de menino é pouco, mas quem não o aproveita é louco”. Sorrio e dou-lhes razão, o que só por si é um meio de os motivar.

Voltando ao meu aluno que está na casa dos vinte anos, que fez um estágio de dois meses muito abaixo do mínimo exigível, que simplesmente não se preocupou muito em aprender porque provavelmente lhe foi sempre tudo dado. Quando foi confrontado ficou muito aflito, não sabia o que dizer, provavelmente faz sempre como quer e nunca foi confrontado nem responsabilizado. Acima de tudo, como coordenadora dos estágios, quero que as experiências gerem aprendizagem e responsabilização, pelo que, depois de o ver muito preocupado e desapontado pelo que tinha feito, lhe disse que estava no sítio certo para cometer erros, desde que aprendesse com os mesmos e que grande parte dessa aprendizagem era a resolução do problema e vimos em conjunto possíveis soluções. Parece-me que aprendeu, mas considero que é um enorme problema dos miúdos e dos pais, hoje em dia. Os pais aparam tudo e os miúdos não se responsabilizam por nada. A resolução de problemas é fundamental para se singrar na vida. Pessoalmente, o que faço em casa é um bocadinho o mesmo que faço com os meus alunos, basicamente não faço nada por eles, mas ajudo e estou presente em tudo, são muito autónomos e por norma muitos responsáveis, às vezes até resolvem mais problemas do que deviam. E não tenho dúvidas de que teriam melhor capacidade de gerir a situação do que o meu aluno teve. O meu conselho é que, enquanto pais: exijam, questionem, que os responsabilizem e que despendam tempo de qualidade com os vossos filhos.

As crianças aprendem desde sempre, nas nossas barrigas já vão absorvendo tudo. Quando nascem ainda não têm tudo e mesmo que, enquanto pais, possamos dar tudo, questionem-se sobre o que dão. As crianças precisam de regras, de pais dedicados, que tenham tempo de qualidade com eles e paciência para os ensinar.


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