A febre de não fazer vacinas

 


É um fenómeno cada vez mais comum, haver pessoas que renegam as vacinas. Não querendo entrar em discussão, vou dar a minha opinião.

Adoro viajar, sou uma apaixonada por viagens. Sempre que posso, é da forma como gosto de despender o meu tempo com a família. É uma oportunidade de partilha, de conhecimento, momentos que provavelmente não serão recordados pelos mais novos, mas que ajudarão no seu desenvolvimento.

Quando viajamos, fazemos as vacinas todas que são necessárias, porque nos queremos proteger. A ciência tem comprovado que as doenças efetivamente existem e que a não proteção faz com que surjam pandemias.

Não questiono nenhuma vacina que me é indicada fazer, simplesmente porque não me debrucei sobre o assunto, não fiz investigação nesse tema e, mesmo que tivesse feito, não seria tão aprofundada como quem a fez para concluir que eram importantes. Não discuto trabalho que não é meu, porque acho ridículo quando quem não tem formação o faz comigo, e acontece tantas vezes (toda a gente sabe dar aulas, é praticamente senso comum, até ao dia em que tem um grupo à frente). Podemos opinar, mas se não temos conhecimento a discussão não pode ir muito longe, não passará de um conjunto de opiniões.

Recordo a pandemia, foi dura e morreram muitas pessoas, grande parte idosos, mas a proteção de grupo através das vacinas fez com que as pessoas ficassem mais protegidas e a pandemia acabou. Houve quem apresentasse consequências após as vacinas e houve quem se recusasse a fazê-las. A certo momento tínhamos de ter um “passe” de vacinas para poder frequentar certos locais. As pessoas estavam no seu direito e acho que houve quem não as fizesse em consciência com desculpas válidas, houve quem se recusasse por falta de esforço comunitário, o que no senso comum chamamos de egoísmo: “não vou fazer porque ainda me fará mal e como os outros fazem a pandemia acabará”.

Felizmente acabou, mas esse tipo de pensamento está atualmente muito presente em tudo.

“O mundo está perdido!” É uma expressão que ouvimos muitas vezes, mas vamos analisá-la aos olhos das vacinas e das atitudes dos pais.

Cada vez vejo mais pessoas nas redes sociais (falo do Luxemburgo, mas estou certa que também existe em Portugal) que procuram pediatras que aceitem a não vacinação e creches onde a vacinação não seja obrigatória.

As doenças infeciosas são reais. Felizmente menos comuns em países desenvolvidos, porque efetivamente se conseguiu criar imunidade de grupo. Quando viajamos para países menos desenvolvidos, onde a higiene e as condições humanitárias são piores, percebe-se que podem surgir focos de problemas suscetíveis de se tornar virais. O fundamental, para nós e para os outros, é protegermo-nos. Quando vejo pessoas a questionar sobre pediatras ou creches que aceitam crianças não vacinadas, quero acreditar que é coerente, que são os mesmos pais que reservam tempo com os seus filhos, que não permitem que comam fritos, que são radicais relativamente aos açúcares, que controlam o tempo de dispositivos eletrónicos, que os incentivam a fazer atividade física, que intervêm cada vez que os seus filhos têm comportamentos menos adequados,  que são racionais relativamente à sua educação. Porque, se não for assim, são apenas egoístas e não são certamente bons pais.

Obrigada a todos os que arduamente e apaixonadamente trabalham para uma saúde comunitária melhor. Se quiserem ler sobre o assunto este artigo da Universidade de Lisboa é longo, mas tem uma linguagem muito acessível: https://www.medicina.ulisboa.pt/newsfmul-artigo/106/descoberta-das-vacinas-e-vacinacao  

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