Sorte com os filhos: genética ou investimento?

Ando a ler um livro sobre genética que estou a ter dificuldades em acabar porque baseia os acontecimentos quase exclusivamente em pre-determinações genéticas. O que significaria que praticamente tudo o que nos acontece está determinado não sendo influenciado por pessoas e situações.

Sou uma crente em aprendizagens, em pessoas, em momentos que nos modificam e moldam. Lembro-me de conversas, de livros, de vivências que me fizeram chegar a quem sou e onde estou hoje.

Essa mesma crença faz-me imaginar e criar projectos com alguma rapidez.

Hoje em minha casa descrevia mais uma vez a pedagogia Montessori, não sou obcecada mas acredito em muitas das premissas da teoria. E às tantas já eram os meus filhos que orgulhosos explicavam como são as regras em nossa casa. Se tivesse de descrever diria que já está tão absorvido que até eles percebem que as pessoas ficam positivamente surpreendidas então descrevem como fáceis de entender as regras: o arrumar depois de brincar, o colocar a roupa no cesto da roupa suja, o arrumar a roupa nas gavetas deles, tempo de dispositivos electrónicos de acordo com as horas de sono, o critério da seleção das comidas etc.

Já o disse anteriormente mas sou muito renitente relativamente ao avanço tecnológico, é fantástico e traz-nos vantagens incalculáveis mas retira-nos tempo, quando estamos com um telemóvel na mão temos sempre aquele instinto de consultar o que não precisamos e faz-nos perder tempo do nosso dia, a atenção que damos às coisas que nos rodeiam é reduzida e o foco distorcido.

Vejo isso nos meus filhos especialmente na mais pequena. Tem um ano e uma curiosidade imensa que me faz perder tanto o meu foco. Tento abstrair-me, deixar o telemóvel longe, mas atualmente tudo depende dos dispositivos. E-mails pessoais, e-mails de trabalho, escrita e leituras de artigos, organização de projetos, lista de compras, organização do tempo através de uma lista de tarefas, é impressionante como dependemos dos dispositivos. Mas depois penso no quanto fui feliz na minha infância, não havia telemóveis, a televisão era pouca e eu fazia mil e uma coisas.

Desenvolvi duas qualidades que me continuam a acompanhar mesmo sendo dependente dos dispositivos: a comunicação (o gostar de estar e falar com pessoas) e a criatividade (tenho boa capacidade a imaginar cenários e situações e a fazê-los acontecer).

Estas duas características continuam a ser vistas como fundamentais no desenvolvimento das crianças e dos jovens, e eu pergunto-me como teriam sido desenvolvidas em mim caso tivesse tido acesso antes da minha adolescência/ juventude a este tipo de exposição. Como sou preocupada com a nossa sociedade vou observando os comportamentos das crianças e preocupa-me resultados que estimo que iremos obter.

A linha de ação de hoje só terá resultados daqui a 20 anos, pelo que a nossa ação como adultos tem de ser cautelosa. Admito poder daqui a 20 anos dizer que estava errada, mas essa é a razão da minha renitência.

Como vos disse acredito que somos feitos de experiências, de conhecimentos que adquirimos, de momentos que vivenciamos. Tenho lido também o livro do Michel Desmurget (“A fábrica de cretinos digitais”) onde está escrito que as crianças até aos 2-3 anos não necessitam rigorosamente nada de ecrãs, independente da natureza ou do conteúdo. Embora concorde na minha casa exponho a mais nova, e sempre expus os outros, inicialmente menos confiante, para falarem e verem os avós quando estão longe através do ecrã do telemóvel.

O mesmo autor diz que as crianças até aos 6 anos necessitam é de contacto humano e atenção, através de palavras, sorrisos, afetos e encorajamento. Precisam de experiências, de movimento e de interação com outras crianças. É o que acredito, o que defendo e o que transmito aos meus filhos diariamente.

Educar é uma tarefa complexa principalmente porque nem toda a gente estuda para isso. É a minha área mas as escolas deveriam ter conteúdos mais práticos para que os pais aprendam e estejam preparados independentemente das áreas em que se especializarem. E vocês aí por casa? Tem tido “sorte” na educação dos vossos filhos?


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