Como podemos comunicar melhor com as crianças?
A falta de comunicação é um dos maiores flagelos da nossa sociedade, não tem idade nem geração. As pessoas estão cada vez menos comunicativas e sociáveis, cada vez interagem mais com os seus telemóveis e às vezes questiono-me mesmo se sabem e conseguem mesmo comunicar.
Vejo os meus alunos que muitas vezes se envergonham de questionar
presencialmente, que preferem enviar e-mails mas que os evitam e que cada vez
que tem de fazer uma apresentação são obrigados a uma preparação imensa. Que
quando tem dúvidas não perdem tempo a refletir mas perguntam para saber a
resposta. É a via do facilitismo.
Cada vez se lê menos, cada vez se pensa menos porque tudo aparece feito.
No outro dia numa aula estivemos a discutir a principal razão de se andar
na escola e a questão estava em torno de se seria para aprenderem ou se para
terem boas notas. A questão era clara para maior parte deles: estudavam apenas
para a nota, a aprendizagem era supérflua.
É provavelmente o facilitismo das novas tecnologias que leva a que não se
faça muito esforço porque as respostas acabam sempre por surgir mas o sentido
crítico e a reflexão nem sempre ocorrem.
Assumimos que por serem da era ´digital´ sabem tudo mas esquecemo-nos
muitas vezes de os ensinar.
A reflexão ajuda nas conexões, a perceberem o que sabem e a ajuda-los a
trilhar os caminhos que querem seguir.
Os meus filhos, embora volta e meia até pareçam tímidos, tem um vocabulário
enorme e pouca ou nenhuma exposição a meios eletrónicos. Quando estamos à mesa
nos restaurantes conversam, observam e participam.
Adoro colocar-lhes questões que obriguem a reflexão, que os façam pensar e
questionar a razão das coisas, que os obrigue a expressarem-se e que lhes
aumente a criatividade.
Temos conversas interessantes, falamos de coisas diferentes, aprendem com
conversas, com livros, com brincadeiras e dá gosto ver certas conclusões a que
chegam.
Todos os dias lhes faço perguntas, algumas que eles sabem facilmente a
resposta, outras que não tem resposta, que os obrigam a refletir. Elogio e incentivo
o que fazem e o que ainda não sabem fazer. Se ainda não sabem fazer alguma
coisa dou reforço positivo no que já sabem fazer, para incentivar a que tentem
mais até conseguirem. Não faço por eles dou-lhes as ferramentas para fazerem.
Interessam-se por tudo e são orgulhosos. Às vezes convencidos do que fazem
mas não baixam os braços para nada, muitas vezes surpreendem-me, por
acreditarem. Conseguem tornar coisas difíceis, em banais.
Antecipo muito as situações, coloco-os a par de tudo com muito tempo de
antecedência. Andei por exemplo duas semanas a dizer-lhes que as aulas iam
recomeçar. Todos os dias, algumas vezes por dia, lhes perguntava se sabiam o
que ia acontecer de importante e de entusiasmante quando regressássemos ao
Luxemburgo, quem iam reencontrar e quão bom ia ser. O efeito que tem neles é
fantástico, sentem-se confiantes e preparados. Há tantas coisas que não
conseguimos controlar, se as minimizarmos somos muito mais felizes.
Depois de experiências ou situações que vivenciam questiono-os durante
algum tempo sobre pormenores que viram, sentiram, ouviram, cheiraram ou
provaram. Faço com que usem muito vocabulário, mas o intuito principal é que
reflitam e que se foquem não só no principal, mas nos pormenores também.
A conclusão é que como mãe comunico muito com eles e exijo muito deles. São
responsabilizados todos os dias e respondem à altura.
Continuo a ouvir que tenho muita sorte, mas.. a sorte dá muito trabalho e
estimular a autonomia também.
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