Responsabilizar as diferentes gerações

 

Sou sempre daquelas pessoas positivas que acha que as pessoas exageram quando dizem que a nossa sociedade está perdida mas hoje vou partilhar convosco um episódio que me aconteceu.

Aqui há umas semanas um aluno veio-me tentar explicar a diferença entre a minha geração e a dele, porque embora falemos de cerca de 15 anos, é efetivamente outra geração. Falou-me da forma como eles interagem uns com os outros, que WhatsApp funciona mas que os e-mails estão quase « banidos ». Que o Instangram ainda é tolerável mas que o Facebook é para os pais. Não me falou do Tik Tok mas provavelmente porque não calhou. Como gosto de ler e escrever acabo por me sentir muito mais enquadrada na rede social dos « cotas ». 

Foi-me dizendo também que o que não gostam ou não querem fazer é colocado longe da lista de tarefas a fazer. É um bom rapaz mas está com dificuldades em descobrir o que o motiva e embora tenha consciência disso a preguiça ocupa-se mais dele do que quereria.

O que mais me « preocupou » foi a ideia clara que tinha de tudo o que se passava e o claro sentimento de que não iria fazer muito se a vontade dele era fazer pouco.

Fiquei a pensar no que me disse e como ando a preparar-me para começar o doutoramento foi-me dando algumas ideias para perceber melhor as crianças e os adolescentes de hoje em dia. É fabuloso o que a comunicação nos ajuda a ser melhores pessoas e profissionais e a expressar os nossos sentimentos.

Apercebi-me que além dessa falta de motivação, verifico também muita desresponsabilização. Deles próprios e provavelmente dos pais. Este é um tema que abordei em artigos anteriores mas que me preocupa muito. 

Tenho percebido também que encontros e reuniões presenciais, que eu simplesmente adoro, também não estão no leque de preferências desta geração. Tudo é mais fácil se for através de um click.

E agora sim irei contar-vos da minha descrença na sociedade.. eu acredito! Mas às vezes vejo coisas que me redobram a energia e me fazem hesitar por dois minutos.

No outro dia fui buscar a minha filha à creche, tem 21 meses.

Podia dizer que tem apenas 21 meses mas dou comigo frequentemente a dizer que já tem 21 meses. 21 meses de muito amor, muita paixão e muita responsabilização. Já não só tira o casaco e o carapuço quando chega a casa, vai buscar as pantufas e senta-se para lhe trocarmos os sapatos como também vai buscar as nossas pantufas para trocarmos também. Ninguém lhe pede, ela sente-se responsável e fica extremamente orgulhosa quando de forma espontânea e positiva lhe agradecemos. Quem não gosta de ouvir um bom agradecimento? 

Voltando à minha descrença, fui buscá-la e quando chego à porta vejo que ela estava a brincar com um outro rapaz a atirar massas cruas. Primeira regra cá em casa é: as únicas coisas possíveis de atirar são bolas, sacos de areia, arcos e pouco mais. Segunda regra: podem brincar com o que quiserem mas depois tem de arrumar. Portanto obviamente cheguei, reforcei que as massas não estavam dentro dos objectos que podemos atirar e disse-lhe que ia ter de ir arrumar.

Ela de forma muito obediente foi logo arrumar e ali esteve alguns minutos.

A moça que estava lá nesse dia, que estava a substituir a Educadora e que eu quero acreditar que não tenha formação não se moveu para a ajudar e não chamou a atenção do miúdo para arrumar também.

Como podia ter trazido a minha filha logo sem lhe ter dito para ir arrumar mencionei que ela (educadora) devia ter dito ao rapaz para ir ajudar a minha filha. Quando olho para trás vejo os pais do miúdo, com os quais nunca tinha tido contacto.

Comecei a calçar a minha filha e às tantas oiço o pai do rapaz perguntar à educadora o que tinha acontecido, a resposta dela foi que eu devia estar cansada a apontar para a cabeça.

Escusado será dizer que fiquei sem palavras, felizmente era uma pessoa que substituía temporariamente a educadora, e vim o caminho para casa a desculpar-me perante os meus filhos e a explicar-lhes a importância de arrumar depois de brincar. A dizer-lhes que a mamã às vezes exagerava porque simplesmente a podia ter trazido logo mas que cumprirmos com as nossas obrigações nos ajuda a ser melhores pessoas. Como a comunicação é a base da nossa relação, foi fácil que percebessem, colocaram-me ainda mais orgulhosa. Ao mesmo tempo também me apercebi que nem toda a gente que escolhe ir trabalhar para uma creche é dotada para ensinar, sobretudo valores.

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