Responsabilizar: apoiar mas não levantar!

Educar com ferramentas mas deixar que sejam as crianças a usá-las é o que tento fazer com os meus filhos e com os meus alunos desde sempre. Mais uma vez responsabilizar! Não estaremos sempre e não estaremos para sempre é por isso bom disponibilizarmos ferramentas para que sejam responsáveis. As crianças não serão menos crianças se forem responsáveis. 

 

Quando dava aulas no primeiro ciclo acontecia muitas vezes ter crianças que me diziam “não trouxe o equipamento porque os meus pais se esqueceram”. Nessa altura não tinha filhos e achava essa premissa pouco válida e dizia que os responsáveis não eram os pais mas eles (alunos). Pensava e defendia que deveriam ter uma forma de controlar em que dia da semana iam e saber quando deveriam levar o material. 

 

Agora com filhos esta ideia ganhou maior peso, porque não é um desejo que tenho é uma realidade, tem de ser uma realidade. Supervisiono, estou lá sempre, dá ainda mais trabalho mas por norma são responsáveis. Ela tem 15 meses e quando chega a casa vai buscar as pantufas (temos o hábito de trocar de retirar os sapatos da rua quando entramos em casa), quando acaba de arrumar arruma e não é castigo. Eles não são menos crianças por serem responsáveis. Brincam como as outras crianças, mas no final das brincadeiras arrumam o que desarrumaram e ficam muito orgulhosos quando acabam de arrumar. Ele já tem de levar lanches para a escola, as escolhas são limitadas dentro do que é possível escolher. Costumo comprar bolas de pão, divido-as e congelo, estão acessíveis. Acontece frequentemente que antes de ir dormir vai ao congelador tirar um pão, que descongelara durante a noite para poder levar de manhã. Eles adoram participar ativamente nessas pequenas grandes tarefas.

 

As crianças adoram ajudar e o que acontece muitas vezes é que lhes é dito que não, que não é para crianças, sem mais explicações. Não há responsabilidades porque ainda são muito pequenas e depois de repente exige-se porque já são muito grandes.

Ontem tive uma reunião onde um colega dizia que os alunos (universitários) não teriam capacidade de realizar numa função autonomamente e como tal teríamos de os juntar em grupos de dois para garantir que a tarefa seria feita. Irresponsabilização social foi como denominei mas serei eu que não sei gerir bem as expectativas? Que exigo de mais dos meus filhos, e eles obviamente cumprem, e espero dos outros o que a sociedade não lhes cobra?

 

Sou uma apaixonada por educação e por inclusão, todos temos as nossas diferenças e temos de aceitar e ser aceites mas isso não interfere com a responsabilidade, pelo contrário. Sinto como se fosse comigo, ou com os meus, injustiças e esse é, na minha opinião, um dos principais problemas atuais da nossa sociedade, desculpar crianças e adultos, por atitudes e comportamentos inconsequentes, os bons e os maus.

Será que não teríamos uma sociedade melhor se em vez de os ajudarmos a levantar os responsabilizássemos por o fazerem ou fomentássemos a inter-ajuda e a cooperação. Ensinássemos a respeitar diferenças e a serem felizes, estimulassemos o pensamento crítico, a criatividade, a comunicação.

 

Hoje assisti a uma situação que me fez pensar nessa parte da gestão das expectativas. Tudo o que é atividade física toca-me forte no coração e quando falamos de atividade fisica para crianças pequenas mais ainda. Uma criança a quem não sejam dadas instruções específicas e diferenciadas não vai nunca gostar de fazer exercício se não for bem sucedido e não tiver uma vontade inacta. Os pais são responsáveis por levarem as crianças, as crianças encarregar-se-ão de levar o material e os profissionais tem de ser sensibilizados a integrar e incluir todas as crianças independentemente das idades e capacidades.

Vamos todos ser responsáveis para melhorar a nossa sociedade?

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