Despachar crianças de manhã, missão quase impossível


A autonomia facilita em muito a vida dos pais mas será que o facto dos filhos serem autónomos se pode justificar com sorte? Não há dia em que não tenha de responder a esta pergunta dizendo que a sorte dá muito trabalho e se dá...

É preciso paciência mas ainda mais que paciência é preciso tempo. É preciso estimular-se a autonomia com responsabilidade e não encobrindo as tarefas como se tivéssemos bebés até à adolescência. Até porque eles são crianças apenas um período da vida deles e adultos grande parte. Dar autonomia não quer dizer não querer saber e muito menos não acompanhar os filhos enquanto são bebés/ crianças, autonomia significa estimular e promover que tarefas rotineiras sejam realizadas pelas crianças de forma autónoma.

Não vão deixar de ser bebés ou crianças por causa disso e muito menos deixaremos, enquanto pais e educadores, de ter trabalho.

 

Quando comecei a dar aulas a crianças em idade pré-escolar ficava sempre muito surpreendida de ver crianças a vestirem-se e calçarem-se sozinhas. Hoje depois de todas as experiências profissionais e pessoais, surpreendo-me e tenho dificuldades em perceber o contrário: uma criança que não come sozinha, não se veste ou não se calça sozinha... demora mais algum tempo no início mas permite no fim de contas poupar imenso tempo. Também nos permite ter mais paciência e criar crianças mais capazes.

Quando o meu filho mais velho era mais pequeno lembro-me de ter ouvido, de vários pais de colegas dele da creche, que gostavam de ter a minha paciência na hora de sair da creche. Isto porque eu demorava, ainda demoro, imenso tempo para os ir buscar. Porque simplesmente saímos ao ritmo deles. Como sei disso vou sempre com tempo ou pelo menos não vou com a expectativa que seja rápido. O meu tempo de qualidade começa no momento em que os vejo e não a partir do momento em que chego a casa. Vejo o tempo que despendo na creche como um excelente tempo em que os observo num contexto diferente do de casa ou do parque. Aprendo muitas coisas dos meus filhos observando atitudes e comportamentos deles fora do ambiente de casa. 

As tarefas rotineiras são feitas por eles (ela ainda não se veste nem se calça sozinha mas já come inclusive com colher e também já participa quando se arrumam os brinquedos em casa). Ele tem obviamente mais responsabilidades. Veste-se sozinho, pode decidir se quer escolher a roupa ou não mas tem a responsabilidade de se vestir e calçar sozinho. Pode escolher o que come dentro do que é possível ser escolhido. Lavar os dentes por considerarmos ainda uma ação “delicada” ainda lhe damos a possibilidade de escovar sozinho supervisionado ou com a nossa ajuda. Se comermos todos mete a mesa e tem a opção de querer ou não participar na confeção das refeições. Se sujar alguma coisa tem a responsabilidade de a limpar.

É criança e brinca muito. Adora brincar e gosta muito de ter companhia para as brincadeiras. Passa o tempo a fazer atividades diversificadas. O que desarruma arruma e não é menos feliz por isso. Não é exploração infantil é participação social, é uma preparação para se tornar um adulto responsável.  

Os dias em que corre menos bem é quando existem exceções, porque as mesmas tem de ter uma justificação válida, seja para os adultos seja para as crianças. Se não houverem boas justificações para as exceções é fácil que as exceções passem a ser as regras, a autonomia deixe de existir e comecem os adultos a fazer tudo. Depois é um ciclo vicioso e em vez de crianças autónomas criamos crianças dependentes e sem responsabilidades. E em vez de sair de casa de manhã em 10 minutos demora duas horas e começa o dia em stress e sem paciência.

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