Dar exemplo ou omitir piadosamente?

 

Andamos todos saturadas com esta "crise global" e achamos que temos as crianças mais difíceis do mundo. Porque não páram quietas, porque têm muita energia, porque têm carácter muito forte mas será só mesmo isso?
Atitudes geram atitudes e as crianças reproduzem o que vêem.
Se está stressad@ como acha que a criança se sentirá? 
Sim!!! Independentemente da idade. O seu bebé chora muito? E não consegue relacionar com o seu estado de ansiedade?
Claro que muitos dos problemas são resolvidos com boas práticas, algumas que tenho vindo a escrever no blog:
  • ter uma rotina,
  • deitá-los cedo,
  • alimentá-los bem, prometo escrever sobre isto muito muito em breve,
  • ser consistente e coerente nas suas atitudes,
  • estabelecer regras,
  • saber comunicar,
  • observar,
  • deixá-los desenvolver ao seu ritmo e da forma como quiserem sem se deixar guiar por estereótipos e pela força da sociedade
  • ...

Será que não devemos também rever os nossos comportamentos?
Vou dar-vos um exemplo: uma criança chega ao pé de vocês a contar uma coisa que a está a entusiasmar muito (independentemente do grau de interesse do que vos conta, é uma criança e as crianças tem interesses e conhecimentos diferentes dos adultos) e sem olharem para a criança, muitas vezes agarrados a dispositivos electrónicos, soltamos um «ai que bom, já me contas» sem emoção nenhuma, com pouco interesse e não tendo qualquer vontade de voltar a ouvir o que disseram. Se fossem a criança o que sentiriam? Não me ligou portanto vou ter de chamar a atenção de outra forma! Sou criança e quero mostrar as minhas conquistas. E depois faz um disparate e a conclusão é que é uma criança complicada...

Não podes fazer porque és criança mas eu faço porque sou adulto
Há poucas coisas aceitáveis que se enquadrem nesta premissa. Podemos e devemos "negociar" muita coisa com as crianças para as ensinar mas há tantas outras que podem ser evitadas.
Porque dizemos às crianças que não podem comer na sala e nós adultos comemos? Mesmo que não seja à frente delas depois encontram migalhas, confrontam-nos e damos uma desculpa esfarrapada que eles não acreditam mas dizem que sim.
Mas depois também lhes dizemos que não podem mentir ou omitir mas se formos nós era só para o bem deles. Estamos a complicar a educação que estamos a dar...

Querem saber como as crianças vos vêem?
O facto de andamos stressados não ajuda. É importante estarmos bem para lhes darmos o nosso melhor.
Se calhar não é só a personalidade complicada das crianças mas a junção de vários factores entre os quais o exemplo.
Sugiro-vos que façam um jogo com eles: uma dinâmica de imitação e logo perceberão como vos vêem.
Em movimento: a andar, a dançar ou a correr, mesmo que seja um espaço reduzido, quando alguém bater palmas todos param e alguém diz uma profissão e todos tem de imitar (observe o que fazem e imite senão eles imitá-l@-ão), se com a sua profissão não se aperceber da imagem que transparece prossiga com os membros da família. Se houver mais do que duas crianças o adulto pode ser apenas a voz comando.
Se quiser alguma atividade mais calma mostre cartas/fotografias de emoções (podem ser emojis de Smiles) e pergunte qual lhes parece a mãe, o pai,... vai conseguir saber a imagem que transparece.
A ideia não é confrontarem a criança mas aperceberem-se de como elas vos vêem.
 
Falar alto e gritar, um contrasenso
Outra coisa que acontece muito frequentemente é os adultos falarem alto ou gritarem com as crianças e de repente lembrei-me dum texto que um professor uma vez distribuiu numa aula e que guardei religiosamente. Convido-vos a ler e a refletir. Não é directamente para as crianças mas para revermos as nossas apreciações sobre o que nos rodeia.

"ELES E EU…NÃO É ESTRANHO?

Quando ele não acaba o seu trabalho, digo: é preguiçoso.
Quando eu não acabo o meu trabalho, digo: estou muito ocupado.

Quando ele fala de alguém, é maledicência.
Quando eu falo de alguém, é crítica construtiva.

Quando ele mantém o seu ponto de vista, é teimoso.
Quando eu mantenho o meu ponto de vista, sou firme.

Quando ele não me fala, é uma afronta.
Quando eu não lhe falo, é um simples esquecimento.

Quando ele demora muito tempo a fazer qualquer coisa, é lento.
Quando eu demoro muito tempo a fazer qualquer coisa, sou cuidadoso.

Quando ele é amável, é porque tem uma segunda intenção.
Quando eu sou amável, é porque sou simpático.

Quando ele vê os dois aspectos de uma questão, é um oportunista.
Quando eu vejo os dois aspectos de uma questão, é porque sou largo de espírito.

Quando ele é rápido a fazer qualquer coisa, é descuidado.
Quando eu sou rápido a fazer qualquer coisa, sou hábil.

Quando ele faz qualquer coisa sem lhe pedirem, mete-se naquilo que não lhe diz respeito.
Quando eu faço qualquer coisa sem que mo peçam, tenho iniciativa.

Quando ele defende os seus direitos, tem mau feitio.
Quando eu defendo os meus direitos, mostro que tenho carácter.

SIM…É MUITO ESTRANHO!"

Y. Blondel

O exemplo que passamos e a ligação que criamos enquanto cuidadores é fundamental para a auto-confiança das crianças e ao mesmo tempo para a confiança que têm em nós.
Vamos reflectir sobre o exemplo que damos?
 
 
 
*Imagem da autoria de Quino

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