Também se orgulham de falar português?


Será mesmo importante aprendermos outras línguas?

Se me tivessem feito esta pergunta há 20 anos atrás, responderia prontamente que não. No meu percurso escolar foi provavelmente o que menos investi. Talvez não tenha tido a maior das sortes com os primeiros professores de línguas que apanhei mas efetivamente as minhas primeiras verdadeiras aprendizagens a este nível foram quando precisei: a viajar, a estudar e sobretudo a trabalhar.

Fiz Erasmus em Itália e aprendi rapidamente o italiano porque gostava da língua, a vontade facilita em muito as nossas aprendizagens. Aquela característica fantástica do desenrasca tuga fez também parte do repertório.

 

Quando me mudei para o Luxemburgo, um país onde além das três línguas locais (francês, alemão e luxemburguês) se fala também inglês arrependi-me prontamente da falta de investimento na aprendizagem das línguas mas a necessidade aguça o engenho e uns meses depois já me desenrascava muito melhor em inglês e em francês.

Atualmente, 10 anos depois, trabalho em inglês e francês (como formadora e professora) e até tenho noções de alemão e consigo comunicar alguma coisa em luxemburguês. Impressionante a capacidade que temos quando queremos muito alguma coisa.

 

Sou uma apaixonada pela minha língua materna e viver fora aumenta-nos aquele instinto patriota. Em casa comunicamos apenas em português o que ajuda imenso a que o meu filho mais velho (a mais nova ainda não fala) tenha um português bem desenvolvido.

O facto de falar bem o português permite-lhe falar muito bem o inglês, que é a língua falada na creche, percebe muito bem o espanhol, que é falado pela tia, já percebe alguma coisa de francês por ver esporadicamente desenhos animados e adora meter-se com as pessoas em luxemburguês com as expressões mais básicas.

 

Participei nalguns grupos de trabalho de especialistas linguísticos em que se referia que a aposta na língua materna era necessária para aumentar a capacidade linguística das crianças, o que coincide exatamente com a experiência que tenho tido.

A mistura de línguas só confunde as crianças. Se agora posso sem problema nenhum expressar-me noutra língua que o meu filho compreenderá, no momento em que estão a desenvolver a fala é um obstáculo. As crianças não perceberão se misturar as línguas. Especialmente se saltitar de língua em língua.

As crianças são verdadeiras esponjas até aos 4 anos e conseguem aprender com muita facilidade línguas até aos 7. Achar que irá ter mais facilidade por lhe dizer umas palavras noutra língua não ajudará. Consistência e qualidade no discurso. Se não domina sequer a língua não a ensine ao seu filho, não irá ser de todo benéfico para ele.

Se está com alguém que fala outra língua não desista de falar português com os seus filhos eles irão surpreendê-la(o) com a capacidade de mudar de língua consoante a pessoa com quem estão a falar.

 

Há países onde por razões políticas ou sociais interessa desvalorizar algumas línguas e o português é constantemente uma dessas línguas. As pessoas chegam a ter vergonha de falar português… Já chega de acharmos que o português é uma língua de segunda! Há mais de 280 milhões de pessoas que falam português e.. pessoalmente quando preparo sessões sinto-me agradecida de falar português, encontro tanta coisa engraçada que não encontro noutras línguas.

A língua portuguesa tem mais de 600 mil palavras não se pode resumir a três ou quatro palavrões.

 

Se viver num país unilingue não abdique de estimular os seus filhos para aprenderem outras línguas, hoje em dia vivemos num mundo global e não imaginamos o que eles pretenderão fazer quando crescerem. Estou certa que no futuro só lhe agradecerão.

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