Do 80 para o 8

 


Se compararmos a educação de hoje em dia com a que tivemos há uns anos atrás notamos algumas diferenças, não na estrutura escola mas na postura dos adultos. São várias as razões que justificam as diferenças mas irei analisar apenas alguns “pormenores”.

Nas escolas os professores perderam força, antigamente era normal os professores darem reguadas aos alunos, fazia parte do sistema. Quem nunca teve um episódio de uma reguada? Só me lembro de ter levado uma da minha querida professora e acho que me custou mais o que me disse do que a própria reguada. Ela tinha pedido para fazermos um trabalho durante a hora de almoço e eu resolvi que ia para o recreio e não tive tempo de o acabar, valeu-me ir ao gabinete do director com mais alguns colegas. Levámos todos uma reguada, o motivo era o mesmo, mas eu tive uma mensagem especial que me marcou para sempre, senão provavelmente não me lembraria. Ela disse-me “está-me a custar imenso”, uma das minhas colegas perguntou porquê e a professora disse qualquer coisa do género “nunca pensei que fosse necessário”. Eu, a boa aluna, que respeitava sempre os professores e o que diziam tinha falhado, tinha desiludido. Devo dizer que essa professora foi sempre uma inspiração e por causa dela ponderei durante muito tempo ser professora primária.

Atualmente é impensável qualquer atitude física ou mesmo verbal por parte de algum professor. Por vezes chega-se mesmo ao exagero e se algum professor diz alguma coisa que possa ser mal interpretado pode mesmo vir a ter problemas.

Não acho a atitude de bater correta mas continuo viva e não me tirou nenhuma parte de mim, pelo contrário deu-me consciência que não o podia fazer. Tinha de ser assim? Não não tinha e provavelmente hoje em dia ela não o faria mas era a forma de educar e estou-lhe muito grata por tudo o que me ensinou. 

Depois dessa fase passamos ao extremo da premissividade, o papel dos professores passou a ser oprimido. Os pais começaram a assumir que os professores eram apenas facilitadores de ensino sem qualquer responsabilidade na educação dos seus filhos. Para inibir a violência física e psicológica que nalguns casos seria certamente em excesso desequilibrou-se a balança. Quem tem a sorte de ter pais presentes ganhou quem não tem essa sorte nem tanto.

Socialmente dever-se-ia provavelmente evocar mais o papel do professor. O futuro da nossa sociedade também depende dos professores e do tipo de mensagem que passam diariamente aos seus alunos. Gerir um grupo de crianças não é fácil e exige muita paixão. Precisamos de professores inspiradores com metodologias criativas e originais. E uma excelente parceria dos pais e das escolas. 

Também em casa se deve refletir sobre a educação. Violência gera violência e muita exposição reduz a paciência.

Cá em casa a ansiedade descarrega-se num saco de boxe, permitem-se escolhas para quase tudo e há regras (muitas regras). Para todos! A primeira imagem que passa pode eventualmente ser que há muita liberdade e efectivamente há, dentro de um quadro bem definido. Às vezes as opções não são tão acertadas como deveriam mas baseiam-se na consistência que enquanto pais estabelecemos.

As brincadeiras são sempre livres e podem ser escolhidas a cada momento.

Desarrumar dá direito a arrumar.

Já os dispositivos electrónicos são limitados em tempo de utilização e quantidade.

A comida pode ser escolhida, se é uma fruta pode-se escolher a fruta, se são legumes podem-se escolher os legumes mas não existe o não quero. Se não quer legumes também não quer o resto. Esta parte para toda a família, somos o exemplo dos mais pequenos!

Podia continuar com outros exemplos de regras mas em geral são focadas em muitos dos princípios que já apresentei em posts anteriores: consistência, coerência, responsabilização, comunicação,..

 

As regras bem definidas fazem com que o controlo da situação não se perca tantas vezes. Há coisas incontroláveis mas de uma forma geral tudo corre bem. E por aí também há regras bem definidas?

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