Onde anda a responsabilização das crianças e dos jovens?


Responsabilização em educação uma necessidade ou um capricho?

Casas desarrumadas, riscos na parede, sapatos sem atacadores, peixes sem espinhas, fruta descascada entre muitas outras situações será para muitos um contexto normalíssimo numa casa com crianças. Será assim em todo o lado?

Em muitos países não é, mas na maioria dos países lusófonos os pais acabam por assumir a responsabilidade dos atos dos filhos, facilitando o seu papel.

Arrumar depois de utilizar

Quantos professores já usaram aquele material que era tão engraçado (e os alunos se mostravam tão motivados), apenas uma vez num ano letivo porque é tão difícil arrumar e acabam a fazê-lo sozinho?
Quantos pais deixaram de dar aquele brinquedo giro com tantas peças pequeninas porque as crianças depois acabam por se fartar, fica tudo desarrumado e acabam por ter de arrumar tudo sozinhos?

Tanto nas minhas aulas como em casa o arrumar faz parte das atividades. Promovo jogos, competições, músicas para que não seja uma tarefa dos adultos mas parte de uma brincadeira com as crianças. Brinquedos desarrumados não é uma opção, as crianças são responsáveis por arrumar o que desarrumam.

Pintar nos sítios certos

Pintar paredes é uma atividade gírissima com grandes pincéis e um bom papel. Quem nunca fez um mural?
Riscar a parede em casa sem nenhum papel é uma conduta incorreta. Na minha casa aconteceu uma vez, com um amiguinho, apanharam-se sozinhos e testaram. A aprendizagem deu-se com um pano com água e sabão para esfregar e limpar, não foi nada de mais, coisas normais de crianças mas não voltou a acontecer.

Aprender a atar os atacadores

Quando dava aulas em Portugal ensinava as crianças da escola primária a atar os atacadores, perdia 10 minutos em duas ou três aulas e ensinava-os a todos ao mesmo tempo. Depois disso sentia-me muito orgulhosa, chateava-me no entanto haver imensas crianças que não usavam atacadores porque “os pais não queriam que passassem a vergonha de não os saberem atar”. Hoje como mãe reconheço que às vezes facilita, não tanto pelo não saber atar mas há outros tipos de sapatos que se calçam mais facilmente. Usando ou não atacadores é importante que todas as crianças aprendam a atar os atacadores preferencialmente ainda antes de entrarem na escola primária.

Mas afinal perde-se mais tempo responsabilizando ou fazendo por eles?

Quando comecei a dar aulas no Luxemburgo fiquei fascinada ao ver crianças de 3 anos a vestirem-se e a calçarem-se sozinhas e veio-me à memória a experiência que tinha tido em Portugal. Os adultos têm tendência a vesti-las, a calça-las, às vezes até lhes dão comida à boca, transportam mochilas, casacos,... para ser mais rápido dizem, por não terem paciência para esperar ou porque as crianças estão cansadas. Mas será que vai ser mesmo mais rápido? Ou será que a responsabilização lhes daria autonomia e pouparia posteriormente muito tempo aos pais?

O meu filho, na rubrica, “tenho muita sorte”, come sozinho desde um ano de idade e veste-se e calça-se sozinho, com uma pequena ajuda quando necessita mas é da responsabilidade dele essa parte. Tem uma mochila que vai buscar sempre que quer levar alguma coisa a alguém ou quer levar algo para algum lado. Também é ele que transporta o casaco, as luvas,...
Quem vê de fora analisa à maneira que parece mais conveniente, já me senti desleixada porque a análise que fizeram foi de ter “abandonado as minhas responsabilidades” mas de uma forma geral “tenho muita sorte”.
Pois que assim seja mas continuo a achar que a sorte dá trabalho.

Reflexão
Para finalizar este post e porque a educação no estado em que está merece uma reflexão vou falar de crianças mais velhas, que estão na escola, a quem são atribuídas notas pelo trabalho que realizam. Antigamente os nossos pais e os nossos professores exigiam-nos, às vezes de mais, cobravam-nos por tudo o que fazíamos mal. Hoje em dia os professores perderam força e mais depressa os pais cobram aos professores que ao próprios filhos. Uma negativa ou uma nota que seja menos positiva é antes de tudo devida à incompetência ou à ignorância do professor. E a pergunta persiste “Onde anda a responsabilização das crianças e dos jovens?”

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