A importância da comunicação na educação


Educar dá trabalho

Quando resolvi criar o blog fiz uma listagem enorme de temas que gostaria de abordar. Pensei e repensei qual seria o melhor tema para iniciar e provavelmente pelo momento em que me encontro, resolvi começar pelo tema comunicação. Claramente não esquecendo a premissa que tantas vezes uso de “tens muita sorte”, que me faz sorrir e pensar “tenho efetivamente muita sorte mas a sorte é também fruto de muito trabalho, e educar dá muito trabalho”.

 

Falar com os bebés: loucura ou necessidade?

Quando o meu filho mais velho nasceu, tal como todas as outras mães, fiquei radiante. Já falava com ele quando ele estava dentro da barriga e muito mais falei quando ele nasceu. Explicava tudo o que fazíamos, o que víamos, o que ouvíamos, passava o tempo a cantar e a interagir com ele. Um dia a transportá-lo num sling na rua e a dizer-lhe tudo o que íamos vendo e ouvindo reparei que me tinha cruzado com dois rapazes adolescentes que me olhavam muito surpreendidos e pensei.. acham que estou louca a falar sozinha. Sorri satisfeita a acreditar que talvez tivessem percebido a importância de comunicar, independente da idade da pessoa com quem comunicamos.

 

Será que os bebés nos percebem?

A minha exposição a essas idades (bebés, pais de bebés e educadores de bebés) aumentou nessa mesma altura e ouvi (e continuo infelizmente a ouvir..) muitas vezes a frase “os bebés não percebem nada”. Inicialmente pensei que estava a perceber mal mas as atitudes das pessoas acompanhavam a frase, o que me chocava (e continua a chocar) imenso. Essas eram as mesmas pessoas que me diziam vezes sem conta “tu tens muita sorte”.

 

Será que é só sorte?

Ora... evito telemóveis quando estou com os meus filhos, evito fazer outra coisa que não seja estar com eles e presto atenção ao que me dizem e ao que me comunicam. Não quer dizer que viva apenas para eles mas que enquanto filhos e pais nos adaptamos uns aos outros. Explico-lhes tudo as vezes que forem necessárias como se fosse sempre a primeira vez. Preparo-os para as situações que vão encontrar e faço-o desde o dia em que nasceram, preparo-os para tudo, comunicando. Não lhes digo que sim sem ter percebido o que me transmitem.

 

Comunicar para aumentar a confiança

A comunicação é uma almofada que utilizo todos os dias, que permite aos pequenos terem confiança e segurança no caminho que irão percorrer. Se preciso de trabalhar quando estou com eles explico-lhes o que tenho de fazer e tudo corre melhor.

Se tentasse enviar uma mensagem no telemóvel, ler um e-mail no computador tendo a ilusão de que lhes dava atenção, certamente não faria bem o meu papel. Assim, se tiver de enviar uma mensagem digo-lhes para esperarem um bocadinho que tenho de enviar uma mensagem (e envio mesmo só essa mensagem), mas depois dou-lhes a atenção toda e o meu tempo será apenas para comunicar com eles.

 

Será que o choro pode ser falta de atenção?

No dia de nascimento do meu segundo filho tive a visita de uma médica para fazer a despistagem da audição (como já disse vivo no Luxemburgo, mas o mesmo se poderia passar em Portugal, no Brasil, em Timor, em Moçambique,...), quando a vi entrar e percebi o que a médica pretendia, comecei a explicar à minha filha o que se ia passar e que não se preocupasse que eu estava ali etc etc, o meu marido que estava presente assistiu aos dois momentos, ao meu e da minha filha e ao da médica a olhar para nós e ficou com imensa vontade de rir. A médica olhava-me como se eu fosse louca (onde é que já se viu falar com um bebé, “eles não percebem nada”), o que é certo é que ela fez o teste e a minha pequenita esteve muito bem. Será que foi uma coincidência? Não estará o choro dos bebés e das crianças muitas vezes associado à falta de atenção que têm?

 

Quando começam os bebés a perceber?

Outro fenómeno que se observa relaciona-se com adultos a falarem “bébélez” com as crianças e fico a pensar se isso não complicará a compreensão das crianças, que terão de estar aptas a perceber dois tipos de comunicação em vez de um.

Quando é que os bebés começam então a perceber o que lhes dizemos? Há um dia específico?

O meu conselho é claramente começar a falar desde o primeiro dia e chamar as coisas pelos nomes.

 

Omitir, mentir, dizer que não a toda a hora

A paciência é um ingrediente indispensável. O vocabulário pode ser exigente mas o mais importante é não omitir nem mentir porque a confiança demora muito tempo a construir e apenas alguns segundos a destruir.

Outra coisa muito importante é investir no tempo e na qualidade das respostas. Dizer simplesmente « não » ou « não podes fazer porque não é para a tua idade » faz as crianças perderem confiança e interesse. Se invertêssemos os papéis e alguém nos dissesse um não redondo ou que não era para nós sem nos dar uma justificação, como nos sentiríamos? As crianças percebem as coisas muito bem e são muito justas mas nem sempre o envolvimento as incentiva a isso.

 

Que boas práticas podemos adotar para facilitar a comunicação com as crianças? Partilhe comigo o que tentou para conseguir melhorar a comunicação e quais foram os efeitos na(s) crianças(s).

Comentários

  1. Olá Catarina! Excelente tema para começar. Também converso com a Alice em linguagem de adulto desde que ela nasceu (quando estava dentro da barriga ainda não sentia a necessidade, mas a minha madrinha de casamento falava). Quanto às tarefas sobrepostas, ela sente logo quando não estamos a dar-lhe atenção exclusiva, o que se complicou com o teletrabalho. Embora explique que estou a trabalhar, por vezes interrompo porque ela exige. Pensando bem, terei sido eu a não fazer corretamente a separação dos tempos. Vou ter mais atenção. Obrigada por esta partilha. Um beijinho

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    1. Obrigada Xana pelo teu comentário. Mesmo que saibamos a teoria faz falta às vezes lermos certas coisas para refletirmos. A tua mensagem fez-me ter a certeza que está mesmo a valer a pena este projeto :) Beijinho

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  2. Engraçado. A mim também me dizem que "tenho muita sorte" e que o meu filho é fabuloso (e é claro). Também respondo muitas vezes com um: "não é sorte, é muito trabalho!". Para mim a única sorte foi até agora ser um criança saudável. Isso sim é sorte. E noto que há uma diferença abismal na forma como eu falo com ele e lhe explico as coisas e como vejo as outras pessoas com filhos lidarem com os seus filhos. Há mesmo muita diferença. Concordo muito consigo. ❤️

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    1. Obrigada pelo seu comentário! Que bom!!! É inspirador ver pessoas que não conhecemos a chegarem ao nosso blog e comentarem que tem a mesma "sorte" :)

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